Desvendando os segredos do Império da Cortiça em Portugal

Nas mãos da mesma família desde 1870, o maior produtor mundial de rolhas quase desapareceu no início dos anos 2000. Hoje, esta joia da indústria portuguesa não só reconquistou o seu mercado histórico, como fez da cortiça a queridinha de muitos outros sectores.

Artesão cortando um pedaço de cortiça.

PORTO DE SANTA MARIA DA FEIRA — No pátio, montanhas de cascas de árvores aguardam sua vez antes de passarem para as esteiras transportadoras. Escaneadas de todos os ângulos, elas são distribuídas de acordo com a espessura da camada de cortiça, antes que um sistema de inteligência artificial as escaneie com câmeras e diga aos robôs onde perfurar, transformando a casca em pequenos cilindros. Perto dali, uma dúzia de operadores humanos realizam o mesmo trabalho manualmente e com os olhos. “A sua experiência é única e reservamo-la aos nossos melhores clientes”, explica Carlos de Jesus, diretor de marketing da corticeira Amorim.

Depois de cortadas em rolhas de aspecto perfeito, passam por um teste final. Conceição Loja, debruçada sobre as sacolas prontas para embarque, identifica algumas com microdefeitos. “Isso altera a qualidade do vinho? Não. Mas se você é um castelo de prestígio, espera que tudo seja perfeito”, diz com orgulho a técnica com 37 anos de experiência.

É impossível não ver as fábricas ao longo dos 25 quilómetros que separam o Porto, em Portugal, de Santa Maria da Feira, reduto de Amorim. Semelhante ao que pesquisámos nesta manhã de Março, estão por todo o lado, produzindo mais de 6 mil milhões de rolhas por ano, o que representa metade de toda a produção mundial. Mas as casas de vinho e champanhe, clientes de longa data da empresa, não são as únicas a beneficiar: das solas dos sapatos às pranchas de surf, dos painéis isolantes aos narizes dos foguetes, dos pavimentos dos estádios aos conveses dos navios, a cortiça Amorim está em todo o lado.